[Entrevista] HELENO VALE - Soulspell Metal Opera
"Torço e trabalho muito para que um dia o Heavy Metal seja tratado e respeitado aqui no Brasil como um estilo musical de verdade e para que haja ao menos um pouco mais de espaço na mídia"
A Opera Metal brazuca já revelou grandes nomes no cenário nacional, como Daísa Munhoz, Raphael Dantas, Victor Emeka, Gui Antonioli e o grandioso Pedro Campos. Também deu um "up" em alguns nomes já consagrados como Iuri Sanson, Mario Pastore, o saudoso Mario Linhares e, claro, Leandro Caçoilo, dentre muitos outros. Para conhecermos mais sobre este grandioso projeto, entrei em contato com a mente por traz de tudo isso, o grande Heleno Vale. Confira a entrevista:
HNR - Tudo bem Heleno? Pra começar, quero te agradecer por dispor um pouco do seu tempo para responder a esta entrevista e pedir que você inicie esta conversa contando como foi a sua iniciação no mundo da música e do Heavy Metal em si. Conte um pouco do começo de sua história.
HELENO - Eu que agradeço a oportunidade. Comecei tocando teclado aos 14 anos e migrei para a bateria dois anos depois. Aos 16/17 anos tive minha primeira banda de Heavy Metal que, graças a Deus, só tocava IRON MAIDEN. A Donzela de Ferro é uma excelente escola. Durante os anos de faculdade que se seguiram tive mais um tributo ao MAIDEN e comecei a flertar com o Power Metal em algumas excelentes bandas de Londrina e Bauru, tocando músicas próprias, além de HELLOWEEN, RHAPSODY, BLIND GUARDIAN etc. Hoje cá estou, completamente imerso no mundo fantasioso e fantástico do Power Metal / Metal Melódico.
HNR - Sabemos que você é inegavelmente um ótimo baterista, você estudou música? Como foi a sua evolução como musicista?
HELENO - Muito obrigado. Estudei alguns anos de bateria com alguns professores diferentes em Londrina e Lençóis Paulista, mas também estudei um pouco de harmonia e composição pra poder tirar as ideias da minha mente e passa-las para o papel. Não me considero nem um grande baterista, nem um grande compositor, mas me divirto bastante fazendo isso e pretendo continuar por mais algum tempo.
HNR - Além da bateria, você toca algum outro instrumento?
HELENO -Toco um pouco (bem pouco) de teclado. Hoje em dia, ele serve apenas para que eu possa compor minhas músicas. Ah! Já toquei contrabaixo, também, em 2 shows de cover, onde estávamos sem baixista...rsrs. Foi uma droga, mas foi divertido e empolgante.
HNR - Sabemos que cada compositor tem sua maneira e "ritual" na hora de compor. Na hora da inspiração, como é o seu processo? Existe um ritual, uma formula que você siga?
HELENO - Não há um processo específico, mas há situações inusitadas. Percebi que, geralmente, as melhores ideias surgem quando estou desempenhando alguma atividade que não exija muita concentração, onde a mente possa viajar livremente. Por exemplo, muitas vezes tenho ideias quando estou lavando a louça (acredite!), tomando banho, correndo na esteira ou no parque sozinho, dirigindo sozinho e etc... Em todas essas situações, eu paro para gravar um áudio ou texto no meu celular pra lembrar dessas ideias depois. Em seguida, preferencialmente no mesmo dia, quando chego no meu notebook, anoto tudo em MIDI ou simplesmente passo os arquivos para o computador.
HNR - Como o SOULSPELL é uma Opera Metal, cada personagem tem sua personalidade e por isso é interpretado por cantores diferentes. Como se dá a escolha das vozes?
HELENO - São muitas variáveis, mas esse é um processo que gosto muito de fazer. Adoro começar o processo de criação de um álbum pensando em cada timbre, em cada personagem e em cada particularidade das faixas que representarei musicalmente. Procuro, claro, sempre tentar a participação de meus ídolos da adolescência, mas jamais deixo isso estar à frente das características vocais do cantor. O timbre e técnica deve sempre se encaixar com as características do personagem em questão. Hoje em dia, estou em busca de novos timbres, diferenciados, com características únicas no quesito interpretação, coisa rara de se encontrar. Talvez eu organize o 3º concurso de vocalistas do SOULSPELL para descobrir novos vocalistas. Já está na hora! Vamos ver...
HNR - Falando em cantores, como é gerenciar tantos talentos, ainda mais agora, que temos vozes internacionais. Como é lidar com essa gente toda? Houve, em algum momento da história do projeto, algum tipo de tensão?
HELENO - Claro. Houve sim. Muitas vezes. Isso é inevitável, não? Não é fácil lidar com muita gente ao mesmo tempo. Todos somos diferentes, temos nossas particularidades que nem sempre se encaixam com os demais. Eu procuro sempre levar as coisas num meio termo que possa nos manter num caminho constante e firme. Penso que consegui gerenciar tudo e todos relativamente bem até o presente momento. Hoje, o SOULSPELL é uma grande família, da qual tenho todo o orgulho desse mundo.
HNR - Dentre os nomes internacionais, algum deles fez alguma exigência curiosa para participar? Como foram os contatos?
HELENO - Todos os nomes internacionais foram muito gente boas até o presente momento. Ninguém “deu trabalho” algum. Houve algumas situações engraçadas, no entanto, como por exemplo, o RALF (Sheepers do Primal Fear) achar “injusto” eu mandar uma guia da DAÍSA (Munhoz) pra ele gravar (devido ser muito alta e excelentemente bem cantada). Mas claro que ele reproduziu com total maestria a música "Horus’s Eye". Escutem!
HNR - Estava vendo uma série de vídeos do Moita, do Canal Heavy Talk, onde ele interpreta a estória da Opera, desmiuçando detalhadamente toda a saga. Achei muito interessante essa abordagem de fazer analogia de um fato antigo, passeando pela espiritualidade e encaixa-lo nos tempos atuais. De onde veio a ideia da trama da Opera, quando aconteceu o "click" que desencadeou toda essa jornada e que você pensou: "isso vai ser foda!"?
HELENO - Houve um concurso de bandas autorais na minha cidade e, como eu sempre quis compor, decidi aproveitar aquele momento para me testar nessa área. Fiz 3 músicas baseadas num sonho/visões de um grande amigo, as versões demo de "Weight Of Evil", "Eternal Skies" e "Soulspell" e as apresentamos nesse festival. Obtivemos o 1º lugar dentre 21 bandas. Nesse momento eu soube que deveria levar isso adiante de forma mais séria pra ver até onde chegaríamos. Estamos vivos até hoje, muito animados e ansiosos pra gerar nosso próximo álbum.
HNR - Recentemente foi gravado um DVD do SOULSPELL, inclusive com a participação do nosso saudoso Andre Matos... aliás, a partida de Andre pegou a todos de surpresa, naturalmente. Gostaria de saber como foi o processo de gravação deste trabalho, a escolha do repertório, algum fato curioso dos bastidores e, obviamente, se houve também alguma mudança nos planos por conta do desencarne do Andre.
HELENO - Ainda não consigo falar muito do ANDRE. Ele foi um parceiro sem igual para o projeto SOULSPELL, uma pessoa humilde e fantástica. Um dia contarei tudo isso melhor pra você. Quanto ao nosso DVD, foi o maior trabalho que já realizamos. Foram 6 meses de preparação, muitos dias sem dormir e mais de 70 pessoas envolvidas. O material está maravilhoso e claro, estamos preparando algo especial para homenagear o ANDRE nos extras. Está super especial e lembraremos pra sempre de todos esses dias com muito carinho.
HNR - Sobre da música pesada no Brasil, em sua opinião, por que, mesmo com uma crescente onda de bandas e novos talentos surgindo, trabalhos bem produzidos e etc..., ainda não conseguimos romper a crosta do mainstream? Gostamos de nos manter no underground ou não nos apoiamos o suficiente para romper esta barreira? Como você vê nosso cenário atual?
HELENO - Vejo muita gente criticando o público, criticando as casas de show, mas acho que ninguém tem culpa. Penso que se manter no underground seja uma característica do Heavy Metal. Esse é um estilo tão especial que certamente não é para a grande maioria das pessoas. No entanto, especialmente no Brasil, talvez esse “underground” seja um pouco acentuado demais. Aqui, 99,99% de todo o espaço é destinado a 1 ou 2 estilos. Torço e trabalho muito para que um dia o Heavy Metal seja tratado e respeitado aqui no Brasil como um estilo musical de verdade e para que haja ao menos um pouco mais de espaço na mídia, tanto para o Heavy Metal, quanto para o Rock Nacional, o MPB, sertanejo raiz e outros tantos estilos maravilhosos que estão totalmente sufocados pelo Sertanejo Universitário e Funk. Há espaço pra todos!
HNR - Falando do SOULSPELL especificamente, como você vê o retorno ao projeto? Claro que há, na teoria, uma legião de fãs nos seus notebooks e plataformas de stream, mas isso se reflete em números físicos tanto nos shows quanto em cópias vendidas dos álbuns?
HELENO - Do alto dos nossos 13 anos de projeto, ou algo em torno disso, não posso reclamar. Tive muitos momentos maravilhosos pra minha vida, fiz muitas amizades sinceras (outras nem tanto), conheci muitos lugares, conheci muita gente. Resumindo, eu vivi intensamente e isso é ótimo. Claro que eu gostaria de ter um retorno financeiro melhor, mas isso não é motivo para desistência. Vamos continuar trabalhando sério, cada vez mais e produzindo materiais de qualidade, pois é isso que gostamos de fazer. O quanto isso será reconhecido ou valorizado nos próximos anos, só o tempo dirá.
Vamos falar de HELENO VALE
HNR - Heleno, quem foram os teus mestres, direto e indiretamente, como músico? (Influências)
HELENO - Muitos mestres diretos. Prefiro não citar nomes para não cometer injustiças. Mestres indiretos: ANDRE MATOS (direto e indireto), NICKO McBRAIN, STEVE HARRIS, BRUCE DICKINSON, OZZY, DIO, ARJEN LUCASSEN (direto e indireto), TOBIAS SAMMET, TONY KAKKO, HANSI KURSCH.
HNR - Você tem alguma outra banda ou outro projeto além do SOULSPELL?
HELENO - Atualmente, tenho um tributo ao IRON MAIDEN chamado FEAR OF THE BEAST. Você já deve ter percebido que o MAIDEN é minha banda favorita. rsrs
HNR - Um momento memorável na sua carreira.
HELENO - Facilmente, a gravação do DVD com 30 músicos, realizando a união inédita de FABIO LIONE e ANDRE MATOS cantando juntos uma mesma música do SOULSPELL. Um momento histórico para o projeto e para o Metal Nacional, do qual me orgulho demais.
HNR - 03 Álbuns que marcaram e que você tem como referência.
HELENO - "Silence" (Sonata Arctica), "Somewhere In Time" (Iron Maiden) e "Nightfall In Middle Earth" (Blind Guardian).
HNR - Um show inesquecível.
HELENO - BLIND GUARDIAN em Bauru/SP quando adolescente.
HNR - Você exerce alguma outra profissão em sua vida, além da música?
HELENO - Professor Universitário de Ciência da Computação.
HNR - Como é um dia normal na vida de Heleno Vale?
HELENO - Trabalhar com computação, estudar, trabalhar e sonhar com o futuro do SOULSPELL, treinar bateria, assistir alguma série, filme ou ler algum livro.
HNR - Uma frase que define sua maneira de pensar e agir.
HELENO - Não viva como se sua vida fosse durar pra sempre.
HNR - Mais uma vez gostaria de agradecer pelo seu tempo Heleno e quero deixar esta última para que você teça algumas palavras para os leitores do Heavynroll.
HELENO - Por favor, se inscrevam em nosso canal de Youtube e em nossa página de Facebook e Instagram. O SOUSPELL tem vários passos já projetados para um futuro próximo e seria bom demais ter vocês conosco nessa fantástica história. Apoie o projeto, apoie as bandas nacionais. Vamos em frente! Muita boa sorte a todos nós!
Links
https://www.youtube.com/user/soulspellmetalopera
https://www.facebook.com/soulspellmetalopera/
Link do Spotify
Spotify - "The Second Big Bang"
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O que Heleno Vale anda escutando?
MANU SAGGIORO Clarões
MEASTRICK - Unpuzzle!
SOULSPELL - A Teoria de Tudo (Ayreon – versão do Soulspell em português)
SLAYER - Seasons In The Abyss
IRON MAIDEN - Somewhere In Time
DISCOGRAFIA SOULSPELL:
2008
2010
2012
2017 |
(álbum tributo ao AYREON, versão em português do álbum "The Theory of Everything" |
2017
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