[Matéria Especial] Bandas Tributos e Covers
Caxias do Sul é bem servida de músicos talentosos e que estão envolvidos em diversos projetos e trabalhos. Mas uma coisa é certa, todos começaram tocando covers, seja em uma banda de miscelânea ou mesmo em um tributo a uma grande influência. E muitos ainda mantém estes projetos, seja para ajudar a "ganhar o pão", ou mesmo por diversão e satisfação.
Na cidade, temos e tivemos bandas fazendo tributo as mais variadas bandas e estilos, desde Peal Jam, Rage Against the Machine, Ramones e Nirvana, até Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica e Sepultura. Mas as bandas de metal ainda são as que mais fazem tributos e veneram suas influências.
Quando falo de tributos me vem a mente bandas como Anesthesia (Sepultura), Ópium (Pearl Jam), Nativity in Black (Black Sabbath), Hell Dreamers e After Dark (Iron Maiden) e Pantera Cover, das que "já não estão mais entre nós". E tem as que continuam na ativa a mais de uma década, como AC/DCCover RS e Metallica Cover, e outras ainda que volta e meia mostram a suas caras, como a Blindsnake (Whitesnake) e a Janis Project (Janis Joplin).
Para ilustrar melhor este universo, contatamos Marco Paim (Mentalblast/The True), Rodrigo Campagnolo (Blindsnake/Hardrockers/Exit11/Electric Blues Explosion) e Camila Dengo (Janis Project/The Blues Beers) e fizemos algumas perguntas:
Como é ter uma banda Tributo?
Rodrigo Campagnolo |
Cover (ou como é chamado nos USA e Europa - Function Band) é a banda que toca músicas de outras bandas, não importando o estilo. Se você toca uma música do Metallica, você está fazendo um "cover" do Metallica. Se tocar Barão Vermelho, um "cover" do Barão Vermelho, ou seja, você está "cobrindo", fazendo a sua versão de uma música que existe.
Tributo é quando você se dedica a tocar apenas músicas de uma banda, geralmente por afinidade no gênero e no jeito que você toca. Por exemplo, nós da HardRockers tocamos covers (Van Halen, Ac/Dc, Scorpions, Europe, Deep Purple, etc...) mas temos um "tributo" à Whitesnake chamado Blindsnake, onde reproduzimos o show atual do Whitesnake, mesma ordem das músicas, arranjos e tudo o mais. Isso se deve ao Gubert ter a voz extremamente parecida com David Coverdale, além do meu jeito de tocar guitarra e principalmente à nossa paixão pela banda original, a qual escutamos e veneramos desde os nossos primeiros acordes quando estávamos começando, lá nos anos 80. É uma banda que inspirou quase todos nossos integrantes, e essa é nossa maneira de "pagar tributo", de reverenciar uma banda que mora em nosso coração.
Dessa mesma maneira acontece por exemplo com o Ac/Dc Cover RS - a voz do Paganela se assemelha muito à de Bon Scott e é somente músicas dessa fase que eles tocam.
Esse é o tributo real, quando você toca o que lhe marcou ou mexe dentro de seu coração, e é extremamente gratificante subir no palco e tocar com o tributo à Whitesnake, pois eu toco como se eu fizesse parte da banda original, entende? Sinto algo do tipo: se eles perdessem um guitarrista, eu poderia substituí-lo e a banda ficaria satisfeita.
CAMILA - Cantar Janis Joplin foi para mim um desafio no início, depois que já estava mais segura com o repertório passou a ser uma diversão, ela sempre foi meu ídolo e referência, tanto musicalmente quanto à personalidade. Interpretar suas músicas é muito bom, posso explorar vários aspectos da minha voz e me dedicar a interpretação que é muito intensa.
MARCO - Eu sempre tive vontade de fazer tributo a bandas das quais eu sou fã e que me influenciaram em minha maneira de cantar e tocar. É como uma realização pessoal, se sentir na pele do artista e tentar pelo menos sentir a emoção que ele sentiria. A primeira realização foi com o After Dark, onde fizemos um tributo a Iron Maiden por 3 anos, e foi muito gratificante fazer "aquele" repertório. Depois foi a vez da Grinder fazer um tributo a Judas Priest. Também já fiz 2 tributos a Ozzy Osbourne com o Enemywork, e ainda sonho em fazer um tributo a Uriah Heep e Bruce Dickinson (solo), que é praticamente impossível. Sem dúvida, é uma grande satisfação pessoal enquanto músico.
Como a cena musical vê as bandas tributos? Rola preconceito do público ou de bares? Tem como Conciliar bandas tributos com autorais?
Marco Paim |
Mas tocar autoral não quer dizer ter qualidade, existe música boa e a música ruim, tanto cover quanto autoral. Ambos exigem estudo e dedicação do músico.
Conciliar as coisas tem como, mas não está fácil fazer isso, tem muita banda por aí sem tocar. Caxias é enorme e populosa, mas não tem casa de shows e bares proporcionais a isso, o que gera essa disputa por espaço.
RODRIGO - Já é sabido que o público na sua grande maioria prefere escutar "covers" do que música própria, mas isso se deve apenas pela má qualidade das bandas atuais de som próprio.
Algumas tocam muito bem os covers mas na hora de compor, aí é que mora o problema. Tocar músicas dos outros é mais fácil que compôr algo descente. A composição não é pra todos, e ainda hoje as bandas iniciantes têm aquela premissa que não se deve tocar músicas dos outros e sim fazer música própria, mas infelizmente eles não possuem o know how pra criar músicas, apresentam composições infantis e mal tocadas e por isso o público ainda prefere bandas covers na noite.
Por experiência própria porém, quando tocamos com a Electric Blues Explosion, o público fica mesmerado e não consegue definir se o que estamos tocando é cover" ou se são nossas músicas, e a aceitação do nosso show é sempre 100%, por isso eu acho que não rola preconceito por parte do público. Se suas músicas forem boas, o público vai gostar.
Mas sim, os bares e a grande maioria do público ainda prefere escutar covers, e o pior, Sempre os mesmos covers!!! Muda a banda, o reperório é igual... lamentável. E os tributos então? Viraram moda agora. Tem tributo a banda que tem menos estrada que a banda que está fazendo o tributo. Esses tributos, na minha opinião, são fake total... tentativas lamentáveis de ganhar espaço nos palcos.
CAMILA - Alguns bares preferem bandas autorais, outros procuram o tributo para atender aos fãs, acho que tem espaço para todos. O público pode criticar o fato de fazermos tributo ou a interpretação do seu artista preferido, alguns criticam mesmo, mas outros adoram.
Claro que sim, acho que até é saudável, o cover proporciona ao músico adquirir repertório - fraseado, técnica, dinâmicas, e a banda autoral permite a expressão e a criatividade.
Camila Dengo |
CAMILA - Ganhar dinheiro com isso é outra história, acho que é difícil para ambos, o músico, para viver de música, precisa diversificar a atuação. Apesar de já ter ganhado bons cachês com a banda tributo, não há uma regularidade de shows. A banda autoral, no meu caso, tem mais público atualmente.
MARCO - Depende do tributo ou cover que vem fazendo. Covers de bandas pops e comerciais talvez se ganhe bem. No metal, ou até no rock pesado, há altos e baixos. Na minha época de Nightfall ganhávamos uma grana considerável, que salvava contas do mês. Hoje o cara toca e ganha muito pouco, mas ainda assim, pra mim, vale muito a pena fazer covers, mas sem esquecer de fazer o seu próprio som em paralelo, como faço no The True Meaning of Life, que nunca ganhou coisa alguma hehehe.
RODRIGO - A banda cover faz mais shows e portanto ganha mais dinheiro. Isso é para pagar as contas, e também ganhar "estrada" pro músico. Com as músicas próprias, por outro lado, você vende cds nos shows, camisetas, merchandising em geral e vai ganhando respeito pelo que você faz de novo. Mas você não consegue pagar as contas tocando apenas as músicas próprias.
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Concordo com alguns apontamentos, mas não com todos. Primeiramente, temos que pensar que este é um debate sobre economia da música e sobre a construção do cenário da música independente.
ResponderExcluirTratando propriamente de bandas covers ou tributos, temos uma categoria de grupos que muito preenchem a programação das casas noturnas, e que inclusive muitas vezes consegue tirar seu sustento da música, coisa que atualmente é de uma dificuldade imensa.
E quando falamos da realização do músico na contemporaneidade (que alguns insistem em usar a distante palavra "sucesso"), creio que está muito difícil em falar que uma banda autoral poderia realmente se realizar economicamente, podendo circular, gravar, vender discos e camisetas, criando uma sustentabilidade somente através dos seus seguidores. Isso porque o mercado da música mudou consideravelmente, e a possibilidade que temos diante de nós não é mais a realização de uma banda, mas de uma cena. A cena da música autoral, da Novíssima Música Brasileira, das tendências nascidas em uma garagem ou estúdio, compartilhadas em rede e com espaço garantido em festivais.
Casas noturnas? Não sei. Temos que entender também o lado dos donos das casas de bar, e do público. O público, infelizmente, ainda tende muito para o lado da música cover, que na maioria das vezes, não é verdadeira nem visceral. E a proposta aqui seria, de toda forma, estarmos hackeando esses espaços, além de criarmos novos. Nem que seja necessário estar tocando na rua, como está para acontecer, cada vez mais.
E quem diz que não tem música de qualidade produzida em Caxias do Sul, sugiro que dê um tempo de suas velharias e vá até a internet pra se atualizar. Temos um cenário muito promissor, para todos os gostos, porém, isso acaba se desenvolvendo numa lógica muito underground mesmo: enquanto ótimos discos saem ano após ano na cidade, poucos se dedicam realmente a escutá-los.
Se me perguntarem se eu culpo os covers e tributos, vou ter que dizer que sim, mesmo que isso soar preconceituoso. Eles emburrecem o público! Mal-acostumados, os caras saem de casa sabendo tudo o que vão encontrar. Isso é morte de pensamento e inovação. É por isso que muitos falam que o rock morreu: pois o rock também já foi experimentação, novidade, risco. Entre covers e tributos, temos apenas comodismo e fanatismo, e o músico não é super-herói, nunca foi! Precisamos quebrar este tipo de paradigma, que diz que vão surgir novos John Lennons ou Axl Roses; não! No Século XXI, artista de verdade não é aquele que precisa se esconder para ir no supermercado, mas aquele que termina o show e vai tomar uma cerveja do teu lado. Porque? Porque na própria sociedade as coisas estão se tornando muito mais horizontais, e a relação músico-público, casa vez mais próxima. E voltando ao assunto-mór da discussão, é aí que o cover se passa por ultrapassado, pois ele ainda lida com a questão de que temos bandas heróicas, de quando o rock estava vivo e forte.
Dependendo da situação, montar uma banda cover já é um passo pra mostrar que desde o princípio não se acredita na música produzida hoje, em 2012, em seu semblante renovador, um impulso sensível e criativo, vindo de dentro de cada um.