[Resenha] SONIC YOUTH: no SWU 2011

[Resenha] Por Marco Castelan


Alguns perrengues até são bem vindos para a aventura, mas colocar o Sonic Youth como banda anterior aos metaleiros do Megadeth nos colocou em uma emboscada perigosa. Com 1h de antecedência nos dispomos a ficar o mais próximo possível do palco, mas não contávamos com a ânsia de um público xiita, que ao término do barulhento Down - primeira banda do line-up a tocar -, ainda aguardaria 311, SY e Primus para aí sim, bitolar diante da presença da turma de Dave Mustaine.

Com o anúncio da separação de Kim Gordon e Thurston Moore em 15 de agosto, tivemos que por a imaginação em dia para o que poderia ser - e foi! - a ultima apresentação da história dos que nova iorquinos. Como expor todo carinho à uma banda que foi a pedra fundamental para o rock no final dos anos 80? Nietzsche, Rousseau, estes teriam a resposta-chave, mas a nós caberia fazer algo simples, como uma faixa, e foi o que nos restou. As palavras Sonic Youth em fonte do tamanho de uma folha A4 somativa ao nome do ultimo álbum de estúdio, o "The Eternal", 2009, pincelado na cor branca sobre um tecido preto - um luto não explícito - com cerca de três metros de largura, deu a profundidade exata ao sentimento de despedida que rondava os bastidores do evento na molhada Paulínia.

Com um ar pesadíssimo de um final triste, encaramos o show como o mais pleiteado da noite, e assim compramos uma briga barata com os acéfalos do metal, com direito a discussão verbal e alvo humano de copos voadores que vinham com a intenção de deter nossa aproximação ao alambrado do palco, onde tínhamos ideia de estender nossa querida e tão nova faixa. Com uma enxurrada de azar caindo como a chuva, a unica esperança de dar certo e ficar aos olhos da galera de Lee Ranaldo, foi peral abaixo quando os seguranças do evento fizeram-se de cego-surdos não atendendo nossos apelos. Tinha tudo para dar errado. O pitoresco campo de lama mais a chuva tímida abafando o calor já davam traços insatisfeitos ao concerto. Meio que comportados a pequenos cinco metros de distância do palco, ficamos no aguardo do Sonic Youth mesmo. Com uma faixa enorme sem ter como exibir, a decepção bateu geral..mas como um tapa na cara, gritos de um casal que estava quase que beijando a quina do palco se ofereceu para estender nossa faixa. E foi o que aconteceu, conseguimos deixar ela afrente de todos, sem a certeza de que estava bem colocada, mas com uma consciência tão limpa quanto as nossas botas lamacentas.

Enfim a que viemos de tão longe. Thurston, Kim, Lee, Mark e Steve entram em cena com uma suavidade inversamente proporcional ao barulho de suas guitarras. Mais parecido com um jogo dos All Blacks, as farpas entre a irracional orla de fans do “nega-odétis” e os moderados do SY tomam corpo e transforma todos que estavam ali, em crianças, fazendo uma engraçada briga verbal, com dezenas e dezenas de ofensas dirigidas à banda, que Lee Ranaldo respondia com um sorriso escrito “me chupem” talhado em cada dente cinquentão de sua boca. Para o guitarrista Thurston Moore e o baterista e produtor da banda Steve Shelley que em 95 tiveram a infame ideia de aceitar o convite para abrir um show dos Black Crowes - recebendo latas de cerveja e devolvendo-as com suas guitarras -, receber alguns elogios as avessas em seu provável ultimo show não teve efeito algum. Com toda essa cena desenhada, torcemos para que Kim Gordon e companhia tocassem como J. Mascis queria que o Dinosaur Jr. soasse: “fazer com que os ouvidos do país sangrassem!”. E fizeram! Como se levássemos uma botinada enlamada o show começa com "Brave Men Run", do "Bad Moon Rising", 1985, cantada pela garota de vermelho, Kim Gordon. Na sequência "Death Halley 69" do mesmo álbum e que levou Thurston ao microfone pela primeira vez na noite. "Sacred Trickster" e "Calming the Snake" do ultimo trabalho da banda - "The Eternal" -, foram boas surpresas, mas em seguida Lee Ranaldo assume os vocais em "Mote", do clássico "Goo" e faz boa parte dos bitolados metaleiros dançar a cabeça e…sangrar os ouvidos com Thurston Moore gastando o braço da guitarra na quina do palco. Após "Mote", mais uma porrada gostosa no setlist: "Cross the Breeze" e "Schizophrenia" fizeram coro."Drunken Butterfly" conquistou com a declaração explícita em um uníssono “I love you i love you i love you”. "Starfield Road" e "Flower" deram uma mornada na noite caindo, mas um digno ultimo show estava por vir quando o riff grudante de "Sugar Kane" soou das guitarras de Thurston e Lee. A determinada uma hora de espetáculo já havia ficado para trás. Faltava ainda a música que Eddie Vedder a definiu assim: “dá vontade de entrar em um carro e acelerar no máximo!”. Isso mesmo, "Teenage Riot"! O Sonic Youth, que estava destruindo tímpanos, lavando almas, deliciando a todos, terminou sua turnê para lá de barulhenta como imaginávamos…fazendo muita microfonia, distorção, e com o maluco do Thurston Moore fazendo..amor - ? - com sua guitarra, causando aplausos entusiasmados de pessoas que assim como eu, saíram com um sentimento delicioso apesar do final indeterminado da banda.

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