[Entrevista] PABLO LUCENA: "Pra mim, a grande escola é a estrada"
Há muito tempo viemos acompanhando o rock caxiense, pessoas que vêm e que vão, pessoas que temos a oportunidade de conhecer e outras que do mesmo modo que vieram de repente, desaparecem. Neste processo, notamos quando há novidades ou pessoas que se destacam e Pablo Lucena é um desses casos. Um guitarrista de bom gosto e estilo, com aquele algo mais que uma banda de rock deve ter... Atitude!
HEAVYNROLL - Pablo, a quanto tempo está na cena rocker de Caxias? Qual a sua história?
PABLO - O rock n’ roll e a musicalidade vieram do berço, a família toda tem um pé na música, aos 6 anos achei uma penca de discos do Raul e do Elvis guardados em casa e passava as tardes os escutando. Aos 14 anos conheci o Beto Cecatto e o Tequila (Luciano Hoffman) (Predator) que me convidaram pra formar uma banda, eu era o pseudo vocalista, tocávamos de Raimundos à Pantera e foi uma experiência divertida, mas na época, em função dos estudos, trabalho e toda aquela pressão da família, optei por abandonar a música.
A questão toda é que ela não me abandonou (risos), alguns anos depois, aí por 2001, o Moisés (vocal/guita Ding Dong) foi morar ao lado da minha casa, nos tornamos amigos, ele era um baita violeiro, tocava desde criança e me ensinou umas bases no violão pra que ele pudesse fazer os solinhos. Fiquei nessa de violão em acampamento até a metade da faculdade, em que sempre tinham as jantas do curso no galpão da UCS. Em novembro de 2003 montamos uma banda chamada Alkimia pra tocar numa dessas jantas, eu e o Moisés nos violões, a Kellin Mello (Alkimicos/Hey Mamma) cantando e o Jorge da Macedônia (Ding Dong) no baixo, éramos todos estreantes e tiramos as músicas em uma semana, foi bem tosco, mas o incentivo suficiente pra saber que era aquilo mesmo que eu queria fazer. Ali eu subi pela primeira vez em um palco, e nunca mais desci. Agora em novembro de 2008 completaram 5 anos da primeira apresentação, de lá pra cá foram 6 bandas, alguns projetos acústicos e algo em torno de 300 shows.
HEAVYNROLL – Sabemos que toca em vários projetos e bandas, sempre demonstrando uma grande versatilidade e ecletismo. Algum destes projetos é autoral?
PABLO - Pra mim, a grande escola é a estrada, por isso sempre procurei estar trabalhando com projetos ativos. Sempre acontece um desgaste depois de um tempo de banda, e é natural que a galera queira dar um tempo, respirar ou mesmo seguir adiante com novas propostas. Tenho um problema com hiperatividade, então vou engatando um projeto no outro e às vezes as coisas se misturam um pouco.
Dos projetos atuais, a Barracuda é totalmente autoral. A Ding Dong está compondo bastante, devemos apresentar algumas coisas nossas no decorrer de 2009.
Apesar da diversidade de projetos em que atuo, pessoalmente me considero mais uma “viúva do Led” (risos). Procuro fazer música do meu jeito, mesmo nas bandas em que fizemos covers, toco Raul, AC DC ou até um Chemical Brothers procurando deixar a minha marca na música
HEAVYNROLL – Presenciamos em suas apresentações muita energia e empolgação como se anulasse o mundo que está a sua volta e entrasse num transe. O que pensa quando sobe ao palco, o que o rock representa em sua vida?
PABLO - Cara, o rock é a minha cachaça e a música minha religião. Em algumas apresentações, entro mesmo em transe. Na verdade, uma apresentação não é um show, é um ritual.
HEAVYNROLL - Músicos de alto gabarito e bom gosto compõem as suas bandas, alguns inclusive, da ‘velha guarda”, verdadeiras lendas do rock caxiense, como o Mário Passtor e a grande vocalista Carolina Soul, que são de gerações diferentes mas ambos experientes e com uma estrada rockeira já bem percorrida. Como é tocar com pessoas deste nível?
PABLO - Considero-me um cara de sorte, tive a oportunidade de tocar e estudar com algumas pessoas que me ensinaram muito, em um curto espaço de tempo. Muito além da teoria, ou da técnica, que também são importantes, me ensinaram a sentir a essência e a vivenciar de forma verdadeira o que estamos fazendo.
A Carol é uma grande parceira, que considero uma das grandes vocalistas de rock da nossa geração, e o nosso “Véinho” apelido carinhoso do mestre Passtor, é um caso a parte, praticamente um intensivo de musicalidade a cada jam, ensaio ou show.
HEAVYNROLL - O que aconteceu com o Alkímicos? A banda estava disparando no cenário regional, tinha Fher Costa produzindo, participaram inclusive da trilha sonora de um curta metragem chamado “Quem é Tony”, com Direção de André Studzint, em 2006. Depois houve a troca de vocalista, onde saiu Kellin Melo e entrou Carolina Soul. Enfim, o motivo do fim da banda foi a saída de Kellin, ou houve outros fatores?
PABLO - Os Alkimicos foram a minha primeira grande experiência com a música e na época não gostaria que a banda tivesse acabado, mas no final das contas foi bom pra evolução de todos. Na época surgiu uma oportunidade fora daqui pra Kellin.
A Carol entrou na banda, mas em seguida o Schmitt (baixo) foi convidado pra integrar a Ton e os Kharas e o Guga (cajón) se mudou para Curitiba. No final das contas, em menos de 2 meses, da formação original dos Alkimicos havia sobrado somente eu, então resolvi não levar adiante, até porque estava um pouco cansado de tocar em formato acústico. Conversando com a Carol e o Jayson Mross (batera), convidamos o Castor Gitaci (baixo) e resolvemos montar a Lady Jam, mais tarde entrou o Conan Alles na outra guitarra e assim fechamos a formação oficial da banda.
HEAVYNROLL – Um de seus projetos mais recentes é o Barracuda Project, que segundo o release “Nasceu da necessidade de expressar através da arte o mundo que observamos, homem e máquina, tecnologia e inspiração, eletricidade e transpiração.” Explique como isso funciona, é um trabalho experimental e de longo prazo? Qual o público que pretendem alcançar com essa proposta?
PABLO - A Barracuda é a minha menina dos olhos atualmente, o projeto começou com um convite pra tocar numa festa no Berlim Pub, em julho de 2008, como era uma proposta meio maluca resolvemos inovar, montamos a banda na hora, convidamos o Léo Vargas (Hang the DJ) e fizemos um show totalmente improvisado, misturando elementos eletrônicos com guita, batera e baixo ao vivo.
A receptividade do público foi ótima e resolvi estudar um pouco sobre sintetizadores e softwares de seqüenciamento, levamos a banda adiante com o Castor Gitaci (Lady Jam) no baixo, Diego Romanini (Los Infernales) na batera e comigo fazendo guitarra e operando o computador e parafernálias eletrônicas.
Filosoficamente a banda reflete o mundo que vivemos hoje, o ser humano tem em seu cotidiano práticas milenares, como o comércio, ou seculares, como a indústria, em paralelo vivemos a era da hiper informação, conhecimento, automação.
Na Barracuda Project, fizemos um instrumental da parte acústica totalmente cru, ritmos básicos, seqüências harmônicas simples, algumas até monotônicas, aliadas à sintetizadores, loops, samples, instrumentos virtuais, acionados no computador e controlados via software de sequenciamento.
O som é maluco cara, pra sacar qual é, tem que escutar, em breve lançaremos alguma coisa demo. Mas assim, tem rockeiro que gostou e outros querendo nos queimar na fogueira santa do rock (risos).
HEAVYNROLL - Ding Dong - Tributo à Raul Seixas. A banda tem a proposta de homenagear o maior ícone do rock nacional, o maluco beleza, Raul Seixas. Realmente a banda é muito boa, e o vocal lembra muito o Raulzito. Como tem sido a receptividade do público com esta idéia?
PABLO - Raul é o cara, escuto desde criancinha e o público adora, tem um monte de fãs dele por aí. Essa banda surgiu com a intenção de reunir os amigos e tocar, o tributo foi a desculpa, na verdade no começo ficamos até meio indecisos entre fazer o tributo à Raul ou à Planet Hemp (risos).
Sou padrinho da filha do Moisés (vocal) e amigo de longa data do Jorge (baixo) e Passtor (batera), estávamos com saudade de tocar juntos e montamos a banda. A idéia da Ding Dongagora é continuar tocando com o tributo à Raul pelo estado e em paralelo começar a registrar algumas composições nossas.
Quando o Fher Costa esteve no Brasil de férias nos presenteou com algumas faixas, temos mais algum material nosso, no primeiro semestre deve sair a demo da Ding Dong com essas primeiras composições.
HEAVYNROLL – Outra banda de que faz parte é Lady Jam, que conta com a já citada e poderosa Carol nos vocais. A banda beira a perfeição em suas apresentações, tanto em execução quanto em performance. Não há idéia de seguir com um trabalho sério com músicas próprias e a gravação de um CD, aproveitando a química da banda?
PABLO - A Lady Jam está em férias coletivas desde outubro deste ano (2008). O pessoal da banda estava com uma série de compromissos extras e resolvemos dar uma parada em função disso. Sempre tivemos a intenção de trabalhar com material próprio, inclusive tem algumas composições iniciadas pra banda. Adoro a Lady, é onde toco minhas músicas preferidas, espero logo voltar a tocar o rock n’ roll puro, sem gelo.
HEAVYNROLL – Sabemos que viver da música é difícil e raro hoje em dia, e que muitos músicos acabam por exercer profissões paralelas e até nada a ver com arte. O que mais você faz além da música Pablo?
PABLO - Digamos que a música não seja o que poderíamos chamar de “um mercado de oportunidades”, só fica envolvido quem gosta e está disposto a se sacrificar por isto. Mas sempre existem chances, oportunidades, pra quem trabalha muito, tem talento, sorte, se dedica. Em paralelo à música, minha formação é em administração, trabalho na área, em uma empresa da região.
HEAVYNROLL – E falando em músicos e música em Caxias, como tu vê essa cena rocker em que estamos no momento, há bares e incentivos suficientes?
PABLO - Agora a coisa cresceu, expandiu e misturou bastante. Uma vez tinham as bandas que tocavam no Galleria e as bandas que tocavam no Revival, chegava ao absurdo de ter dois tributos à mesma banda, um pra cada bar, e ainda ficavam discutindo pra saber qual era o melhor (risos).
Entre 2006 e 2008 a galera mexeu um pouco nisso e bagunçou as coisas de uma forma positiva. Hoje, as bandas “grandes” tocam nos mesmos palcos que as bandas “pequenas”.
Os bares em Caxias nunca serão suficientes porque aqui é um grande celeiro de bons músicos e boas bandas, quem acompanhou a cena no estado sabe que nos últimos 2 anos Caxias se transformou na capital do rock no RS, a coisa está acontecendo na região nordeste do estado. Acredito que funcione através de ciclos, vivemos uma fase boa para o rock na cidade e é normal que exista um desgaste depois de algum tempo, como por exemplo, o fechamento do Revival.
Incentivos culturais poderiam existir mais, mas não podemos considerar que são totalmente ruins. O Fundo Pró Cultura está aí, patrocinando ótimos e péssimos trabalhos, comerciais e experimentais. Mas claro, não consegue contemplar todas as iniciativas. Não gosto de reclamar muito, sou mais adepto do “arregace as mangas e faça você mesmo”.
HEAVYNROLL – Grande “Pablito”, conhecemos um pouco mais dessa personalidade do rock Caxiense, mande um recado para a galera, e o que podemos esperar de sua guitarra e mente em 2009?
PABLO - Parabenizo e desejo vida longa a Heavynroll Messenger, pelo trabalho que está realizando. Desejo um ótimo 2009 pra toda galera e de minha parte, podem esperar muito barulho, porque nós não estamos aqui pra explicar nada, nós viemos é pra incomodar mesmo.
On the road!
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Os 10 melhores álbuns, e que marcaram a vida de Pablo Lucena:
Led Zepellin I
Led Zeppellin II
Led Zepellin III
Led Zeppelin IV
The Dark Side Of The Moon - Pink Floyd
Live at Pompeii - Pink Floyd
High Voltage - AC DC
Greatest Hits 1961-1976 - Dick Dale
Get Yer Ya Ya's Out - Rolling Stones
Usuário - Planet Hemp
As 5 maiores influências
B.B. King
Robert Johnson
Jimmy Page
Keith Richards
Dick Dale
David Gilmour (Bônus hehehe)
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Contatos
Brracuda Project: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspxcmm=75833781
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