Entrevista: MARCOS DE ROS, o "Choro n` Roll Boy"

Com grande honra temos a oportunidade de apresentar a vocês uma entrevista com o pioneiro do virtuosismo guitarrístico de Caxias do Sul, um verdadeiro "pai" para os guitarristas rockeiros de nossa cidade. E o melhor, bem no dia de seu aniversário, onde completa 4 décadas de experiência e grandes trabalhos que marcaram a música caxiense. Apresento a vocês, Marcos De Ros:



O COMEÇO
HEAVYNROLL - Você lembra o momento em que parou e decidiu "vou tocar guitarra"?

DE ROS - Ouvindo o High Voltage, do AC-DC, na minha infância!

HEAVYNROLL - Quem foram os seus professores, onde buscou o aperfeiçoamento profissional? 

DE ROS - Eu fiz aulas de guitarra com o Sidnei, que tocava no grupo Ego Mecanóide, durante alguns meses. Depois, com o Merônio Sachet, por mais uns 6 meses. Tive também aulas de violino com a  Eliana Braunstein.

HEAVYNROLL - Qual foi a sua primeira experiência com banda?

DE ROS - Tive minha primeira banda com 14 anos. Chamava-se Garganthua e, coincidentemente, todos os integrantes são músicos profissionais até hoje! Fábio Schneider (Apocalypse), Everton Barros (Tom Pepsy), Fernando Costa (Fher Costa / ex-Lucille) e eu!!

POWER TRIO DE ROS

HEAVYNROLL - Uma das pioneiras e tradicionais bandas de instrumental do RS, o Trio De Ros fez muitos shows nos anos 90 e rendeu dois álbuns. Inclusive o primeiro "Ad Dei Glorian" lançado ainda em vinil. Como surgiu a banda e quais foram os momentos mais marcantes desta época?

DE ROS - Foi uma época onde eu estava estudando muito, passava o dia inteiro com a guitarra nas mãos. Comecei a compor algumas coisas e achei que estava soando bem. Eu já conhecia o Fábio Alves (baixista) e o Sandro Stecanela (baterista). Convidei os dois e eles aceitaram.
Então, o Fábio ia na minha casa e eu passava as músicas para ele. Só para tu ter uma idéia da precariedade, plugavamos o baixo e a guitarra num sistema “três em um” que tinha na minha sala.
Eu só não esperava que ele pegasse as músicas tão rápido! Depois dos dois primeiros encontros, ele já tocava todas as composições junto comigo (deviam ser umas oito).
Compus mais algumas na corrida, e convidei o Sandro para assistir esse processo. No próximo encontro, passei as músicas novas para o Fábio, que decorou na hora, lógico. Tocamos todas as músicas que tínhamos e o Sandro só assistindo.  Marcamos o primeiro ensaio oficial para uns dias depois.
Quando finalmente nos encontramos para começar a banda, cada um com seu amplificador, pedais, e a bateria completa, foi um absurdo!
Tocamos todas as músicas (por volta de umas dez), sem maiores dificuldades!
A gente ficou se olhando e alguém disse: “Bom, temos que marcar shows!”.
E foi isso o que fizemos. Claro que continuamos a ensaiar e compor, mas aquele primeiro ensaio foi um momento meio “mágico”.

AKASHIC

HEAVYNROLL - A banda Akashic foi formada praticamente pela última formação do Power Trio De Ros, com o Rafael Gubert. Como aconteceu esta transição?

DE ROS - Na hora de gravar o segundo CD da banda “DE ROS”, sentimos necessidade de um teclado para algumas linhas e harmonias. Mas não conhecíamos ninguém. Fui falar com minha ex-professora de violino (Eliana Braunstein), que também lecionava piano, para ver se ela poderia me indicar alguém. E ela indicou o Éder Bergozza, que já tocava teclado na banda de baile da família dele, “Os Bergozza”. Me lembro quando ele chegou na minha casa para conversarmos. Segundo ele me contou anos depois, eu o aterrorizei até não poder mais, mostrando as passagens mais intrincadas do Dream Theater e falando “É mais ou menos isso que estamos buscando...” (risos).
No fim, deu tudo super certo e acabamos ficando muito amigos (ta aí o “Bravura” para provar...).
Então, um selo discográfico Europeu me enviou um fax (eu sempre enviei os meus trabalhos para todas as gravadoras que eu tinha o endereço) e demonstrou interesse pela banda. Eles disseram que, se fizéssemos um trabalho do nível do “Universe”, mas com vocais, eles nos contratariam. Inclusive se dispuseram a colocar um vocalista do selo deles, mas ficamos apreensivos com a coisa de que não seria uma escolha nossa, então falamos que já tínhamos um vocalista por aqui...
Próximo passo? Fiz um cartaz de “procura-se vocalista” e colei em todas as lojas de instrumentos musicais (risos). Nisso descobrimos o Rafa Gubert e já estava decidido.
Um detalhe engraçado é que todos queriam continuar com o nome “De Ros”, que afinal, já tinha dois discos lançados, e eu era o único que achava melhor usarmos outro nome. Depois de uma reunião, onde expus meus argumentos, decidimos começar algo novo e assim surge o “Akashic” (que quase foi chamado de “Lux Perpétua”).

HEAVYNROLL - Há relatos de houve uma seleção para o posto de vocalista do Akashic, como vocês chegaram a conclusão de Rafael Gubert era o mais indicado ao posto? Como vocês o conheceram?

DE ROS - Conhecemos e testamos vários cantores, alguns excelentes, que chegamos a testar em gravações, daí o Rafa apareceu para o teste. Nós falamos “canta aí qualquer coisa” e sinceramente, nem lembro o que ele cantou. Só lembro que foi a voz mais bonita, afinada e bem colocada que eu já tinha ouvido ao vivo. Foi unânime, todos ficamos embasbacados.

HEAVYNROLL - O primeiro álbum, "A Timeless Realm", uma dos melhores álbuns do progmetal brasileiro, foi gravado na Europa. Havia já um contrato acertado com alguma gravadora ou foi "no peito e na raça". Fizeram shows por lá? Como foi esta empreitada?

DE ROS - No peito e na raça, lógico! (risos). Olha só como uma coisa puxa a outra. Eu tinha recém lançado o “Masterpieces”. Mandei para um cara da Espanha que me deu o endereço de um cara de Portugal que poderia talvez se interessar.
Enviei o CD para o cara de Portugal, o Simão, que me ligou perguntando por quanto eu venderia 50 CDs para ele distribuir por lá. Dei o preço e ele disse que iria me enviar a grana.
Dois dias depois ele me liga novamente para pedir alguns detalhes e eu fiz uma nova oferta para ele: “Se tu comprar 100 CDs, eu vou aí e faço quantos workshops tu conseguir marcar no período de um mês.
O cara achou a ideia excelente, e para mim também, pois, com a venda dos 100 CDs, eu pagava a minha passagem e abria um novo mercado. Quando falei isso para o Rafa, ele simplesmente disse: “Eu vou junto. Te ajudo a carregar a guitarra!”. Daí liguei para o Simão dizendo que, além de workshops, poderia marcar também shows acústicos para a dupla!
Quando falamos para o restante da banda que iríamos passar um mês na Europa, eles se olharam e disseram “Nós também!!”. (risos).  E assim aconteceu!
Fomos, o Rafa e eu, para cumprir uma agenda bacana de workshops/shows e depois de um mês, encontramos o resto da galera no aeroporto de Madrid. As coisas que aconteceram na Europa é material para um livro! Ficamos mais oito meses por lá, onde inclusive, como tu citou, gravamos nosso primeiro CD.

HEAVYNROLL - Há muitas histórias sobre a demora no lançamento do segundo álbum, "A Brand New Day", o que realmente aconteceu?

DE ROS - Uma gravadora nova, que não estou lembrando o nome, nos contratou para gravarmos esse CD. Nos hospedou num excelente hotel em São Paulo por um mês, contratou uma van que nos levava do hotel para o estúdio e trouxe o nosso produtor, o Luis Barros, de Portugal para fazer esse trabalho conosco. Além de fecharem um ótimo estúdio o (LCM) durante esse mês exclusivamente para nós.
Sinceramente? Isso não acontece dentro do metal. Foi um gasto enorme (que não era nossa exigência) e que eu duvidava que iria se pagar em temos de vendas. Aliás, foi mais ou menos o que aconteceu. Eles fizeram a mesma coisa com outras bandas ao mesmo tempo e quebraram antes de conseguir lançar qualquer CD. Então, com a gravadora quebrada, o resto foi negociação (inclusive envolvendo advogados) para a liberação do material gravado. Algo muito estressante e desgastante.

HEAVYNROLL - Enfim, por que a banda acabou?

DE ROS - A banda acabou porque,em busca de melhores oportunidades, decidimos dar uma cartada final. Passamos um mês na Alemanha, a “Meca” do metal, procurando por uma gravadora que tivesse interesse no nosso som. E as gravadoras, quando ouviam a expressão “prog-metal”, fechavam todas as portas. Concluímos que, se no país do metal, não tínhamos chance de expandir, então, por pura falta de público, a banda deixava de ser viável.
Até tínhamos um pessoal que curtia bastante a banda, mas era pouca gente que, infelizmente, não justificava um show ou a gravação de um novo CD. Acho uma pena, era muito prazeroso tocar com os guris!

MARCOS DE ROS
HEAVYNROLL - Em paralelo aos trabalhos com o Akashic, você manteve sua carreira solo, muito boa por sinal. Você lançou os excelentes "Masterpieces I" e "Masterpieces II", inclusive no segundo ataca de vocalista em algumas faixas.  Por que músicas clássicas e não composições habituais de guitarristas?

DE ROS - No estudo do violino (ou qualquer outro instrumento erudito) existe o “estudo de repertório”. Comecei a pegar esses estudos violinisticos e adaptar para a guitarra. Mais tarde, cheguei a estudar algumas obras de violão e até mesmo piano, e fazer essas adaptações.
Depois de algum tempo, descobri que tinha material o suficiente para vários CDs.  Se eu sei tocar, se sei fazer arranjos legais, porque não fazer?
A verdade é que a “série” Masterpieces ainda não chegou a 10 CDs porque não quero ser conhecido somente como interprete, pois também componho coisas que acho legais. Mas aguarde, se o mundo não acabar em 2012, eu chego lá! (risos).

HEAVYNROLL - Há também rolando por aí o "Rock Masterpieces" onde você interpreta clássicos do rock, e aí sim, mandando ver no vocal também. Este álbum pode ser considerado um registro oficial de sua carreira?

DE ROS - Não, esse trabalho é um registro de eu me divertindo e aprendendo a cantar. Depois de muito tempo gravando algumas músicas que eu curtia, juntei todas e “joguei” na net. Não é um trabalho oficial, a enorme maioria dos temas são gravações caseiras, ou seja, está mais para uma brincadeira do que qualquer outra coisa!

Marcos De Ros & Éder Bergozza - "PEÇAS DE BRAVURA"

HEAVYNROLL - Como surgiu a idéia de fazer um álbum com piano e guitarra, já que não muito usual este formato? Qual o significado deste nome?

A idéia do piano/guitarra vem da época que eu tocava violino. A dupla violino/piano é muita usada nesse meio, pois o piano tem condições de soar como uma orquestra, devido à sua tessitura e a capacidade de tocar linhas independentes. Então foi uma escolha bastante óbvia para mim.
O termo “Peça de Bravura”, que vem do francês “Pièce de Résistance”, é usado na música como uma peça musical onde o executante vai demonstrar toda a sua musicalidade e habilidade no instrumento. É como pedir para um músico: “Toca a coisa mais difícil que tu sabe”. Ele vai executar o que, para ele, é a sua “Peça de Bravura”.
Nesse trabalho, como o próprio nome demonstra, tudo é bem complicadinho de tocar! (risos).

HEAVYNROLL - Como está sendo a receptividade do público e da crítica com este trabalho?

DE ROS - Estou super feliz! Acaba de sair uma matéria de oito páginas na Guitar Player, que é algo que eu nunca havia conquistado antes. Tenho ainda vários planos e possibilidades para esse trabalho, creio que, devagarzinho, algumas portas vão se abrindo para essa nova proposta.



HEAVYNROLL - Uma das curiosidades deste trabalho, além do repertório eclético, são os nomes das músicas. Títulos como "A Vingança do Seu Madruga" e "A dança da Lagartixa" já fazem a diferença. Gostaria que comentasse sobre isso.

DE ROS - A forte referência nacional, tanto no nome do CD/DVD (Peças de Bravura), quanto no nome de algumas músicas ("Senta a Pua", "A Vingança do seu Madruga", "Corrida de Calango", "O Vento Encanado"), entre outras, vem de um profundo estudo do Choro Brasileiro. Os nomes engraçados, lúdicos e descritivos são usados pelos muitos mestres do Chorinho. Para citar alguns: Pixinguinha (Proezas de Sólon, O Gato e o Canário,. Dando Topada, Fon Fon, Apanhei-te Cavaquinho), Jacob do Bandolin (Assanhado, A Ginga do Mané, O Vôo da Mosca), Chiquinha Gonzaga (Não Insistas Rapariga, Gaúcho-O corta Jaca, A Bota do Diabo), Waldyr Azevedo (Brasileirinho, Cinco Malucos, Camundongos, Vai Levando), Zequinha de Abreu (Sururú na Cidade, Por que me Enganou?, Tico Tico no Fubá). Ou seja, a culpa é minha, é uma tradição e eu me obriguei a segui-la!! (risos)

HEAVYNROLL - Quais são planos de 2011 para o "Peças de Bravura"? Pretende expandir a divulgação a nível nacional e internacional em termos de shows?

DE ROS - Para o “Bravura”, estou estudando a possibilidade de inscreve-lo em um edital de cirulação, pois  é um show muito simples de ir para a estrada, e creio que realmente cumprirá um papel muito interessante dentro da música instrumental Brasileira. Acho que breve terei novidades sobre isso.

HEAVYNROLL - Sei que é cedo para falar, mas a possibilidade de um "Peças de Bravura II" é plausível?

DE ROS - Pode ter certeza que sim, mas, por hora, tenho alguns outros projetos em mente! Coisas que não vão exigir um estudo tão grande (foram 3 anos de preparação diária, entre ensaios e composição). Agora farei alguns trabalhos que exigem menos da cabeça e mais do coração, para balancear! (risos).

FUTURO

HEAVYNROLL - Além do “Peças de Bravura”, há algum outro projeto para um futuro próximo?

DE ROS - Estou tocando dois projetos que são diametralmente opostos. E isso está me dando muito prazer. Tocar com sutileza em um e de maneira agressiva no outro é muito saudável para mim enquanto músico. Mais sobre isso num futuro próximo! (risos).

HEAVYNROLL - Bandas. Você tem planos de se tornar integrante de uma banda novamente?

DE ROS - Depois do encerramento do Akashic, eu tive umas duas propostas que foram muito interessantes, mas não rolou. Estou aberto e claro que seria bacana, mas a proposta teria que ter um grande fundamento, afinal, já não sou mais tão iniciante nessas paradas... Hehehe!!

HEAVYNROLL - Como você está vendo a cena Caxiense, gaúcha e nacional em termos musicais? 

DE ROS - Nesses períodos de transição de mercado, os caminhos não são muito claros. Existem excelentes músicos aqui em Caxias, mas que não sabem bem como se posicionar no mercado.
Acho que o “Financiarte” está nos ajudando muito a encontrarmos maneiras de continuar a abrir portas que geralmente não são acessíveis ao pessoal do interior.
O mesmo acontece a nível Estadual e Nacional.
Os músicos já consagrados não conseguem produzir muito, pois as suas formulas já não funcionam, e os novos tem dificuldade em quebrar certas barreiras. Nesse período de “trevas”, alguns mais “espertos” (leia-se espertos de uma maneira pejorativa) fazem uma música apelativa que consegue se infiltrar em alguns meios de comunicação, mas a falta de conteúdo os levará ao fatídico esquecimento.
É uma época interessante, pois algumas escolhas vão definir quem é quem dentro da música, um período para pensar bem e tomar decisões que podem afetar muito o futuro musical dos artistas.

HEAVYNROLL - Nossa entrevista fica por aqui, agradeço demais a sua colaboração em nosso Blog. Gostaria que deixasse um recado pra essa moçada que está começando e que pretende seguir uma carreira profissional como músico.

DE ROS - Estudar, dominar os aspectos técnicos do seu instrumento, saber a linguagem da música (teoria e leitura de partitura), saber se relacionar com os outros músicos e ser profissional nos aspectos de pontualidade e equipamento são características que podem te levar muito longe.
Claro que nem todos os bem sucedidos tem essas qualidades, mas aí é deixar o fator “sorte” ter um peso grande demais... Esteja preparado para as oportunidades, porque elas não vão ficar te esperando.

Abraço!!!



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10 Melhores álbuns para Marcos de Ros

Elegant Gypsy - Al Di Meola
1984 - Van Halen
Made in Japan - Deep Purple
Rising Force - Yngwie Malmsteen
Passion and Warfare - Steve Vai
Friday Night In San Francisco - John McLaughlin, Paco de Lucia, Al Di Meola
Images and Words - Dream Theater
Lean Into It - Mr. Big
Jesus Christ Superstar
The 6 Violin Concertos - Paganini
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5 Maiores influências como músico

Al Di Meola
Angus Young (Ac/Dc)
Niccolò Paganini
Paul Gilbert (Racer X)
J.S. Bach


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