Entrevista: BRENO DALLAS (Pindoralia)
Hoje, às 18hs no Leeds, com entrada franca, o Pindoralia lança o seu primeiro cd não-independente, intitulado "A Àgua Empo(ss)çada". Em seus 5 anos de história a banda já conta com, além deste, mais 4 trabalhos independentes dos quais destacam-se músicas como "Vesga", "O Maldete" e atual "As Longarinas", todas elas presentes e revisitadas no presente álbum. Um trabalho diferente, recheado de psicodelismo. Conversamos com Breno Dallas, baixista da banda, para nos dar mais detalhes deste lançamento.
HEAVYNROLL - Tudo bem Breno? Vamos começar com o corriqueiro histórico da banda. Em que momento essa gente boa decidiu que deveria juntar seus instrumentos e começar a fazer um som?
BRENO - Nossa banda iniciou em 2006 como um projeto acústico, que sem muita pretensão se reunia pra tocar no campus universitário, escrevendo canções no meio dos gramados. Desde o início fazíamos composições que trafegavam por estilos variados, mas numa vibe mais mpb ou folk. Só depois de algum tempo começamos a tocar com instrumentos elétricos e bateria. Costumávamos tocar em festas no meio universitário, sem muito profissionalismo, numa história que envolvia mais psicodelia e diversão mesmo. Mas o tempo foi passando e então amadurecemos as composições, e uma inevitável influência do rock progressivo do início dos anos 70 nos mostrou um caminho bem diferente do que tínhamos em mente quando criamos a Pindoralia.
HEAVYNROLL - Quando escuto Pindorália não consigo deixar de fazer uma referência do som com o antigo Mutantes, dos tempos da Rita Lee, e também a algumas coisas do Secos & Molhados. Quais seriam as grandes inspirações para essa sonoridade tão peculiar da banda?
BRENO - Mutantes e Secos & Molhados, juntamente de Beatles e Jefferson Airplane foram as nossas primeiras influências, os primeiros sons que trocamos e tocamos quando nos conhecemos, ainda quando os gramados ocupavam o lugar dos estúdios e salas de ensaio. Mas depois começamos a gostar muito de Yes, Emerson, Lake & Palmer... e também gostamos muito do indie rock, bandas como Arctic Monkeys e White Stripes.
HEAVYNROLL - Depois de várias demos e trabalhos independentes finalmente vem o primeiro álbum oficial, "A Água Empo(ss)çada". Qual a expectativa da banda neste momento tão importante que é o lançamento de um álbum?
BRENO - Primeiramente, também consideramos nossas demos como trabalhos oficiais, sendo que elas registram a história da banda em estúdio, e isso é muito importante pra nós. Cada disco é semblante de uma época da Pindoralia e pra gente isso tem um significado imenso. Quanto a este último álbum, a expectativa é que ele seja apreciado conforme suas nuances, de certa forma ele tenta expressar a história e a memória da banda, pois tem canções muito novas e outras mais antigas, que mistura muitos estilos. Mas o fundo dele, dá pra dizer, é o rock psicodélico, nosso princípio e projeção.
HEAVYNROLL - Ouvindo o álbum noto uma sonoridade bem crua e vintage, onde ele foi gravado e quem é o responsável pela produção? Fale também da arte da capa, o que ela representa?
BRENO - O disco foi gravado em várias situações. Muitos teclados foram gravados no meu quarto, onde montamos um pequeno homestudio. Algumas guitarras, flautas e backin' vocals, gravamos no estúdio Casa de Som, também autonomamente. As baterias, contrabaixos e maior parte das guitarras e vocais gravamos no W37, sob acessoria de Nei Neto, que cuidou da parte da mixagem e masterização também. A sonoridade crua e vintage se dá pela razão de não termos utilizado compressores para a masterização, respeitando as nuances de cada instrumento. Isto talvez deixe o disco fora dos padrões musicais contemporâneos, mas o disco mostrou maior personalidade desta forma.
Quanto à capa, trata-se de uma arte sem autor conhecido, que o Dinarte (Paz - guitarra) encontrou em suas pesquisas pelo Arquivo Histórico Municipal. Tratam-se de índios preparando-se para um ritual, coisa trava alguma relação com a mística da banda. Aliás, em vários momentos do disco, como nas faixas "O Rec-Corre" e o "Tasco", fizemos menção à rituais indígenas. Isto é uma coisa bastante presente na banda, inclusive eu e o Dinarte fizemos alguns estudos em Antropologia Estrutural em busca de uma influência extra para canções futuras.
O tom azul da capa e do encarte remtem, inevitavelmente, a uma melancolia presente em parte das canções, que é a verdadeira água empo(ss)çada.
HEAVYNROLL - Outra coisa curiosa é o modo como as letras são escritas. É como uma poesia abstrata que te leva a muitas interpretações, como que trocadilhos e até mesmo situações de duplo sentido. Quem é o letrista? De onde vem estas idéias?
BRENO - Todos escrevem na banda, e quanto às letras não sei se temos muito a explicar. Geralmente as ideias surgem em forma de poesia, ou pensamos em temas isolados para canções que já têm um instrumental em formação. Dentro disso, é a competição entre o acaso e o destino das palavras dentro de um contexto, o contexto criado pelo clima e pela sombra da música. Às vezes temos referências, às vezes não.
Em "O Maldete", que é uma canção de terror, falamos sobre um assassino que persegue as vítimas com tesouras, mas esse assassino não é uma pessoa, mas uma entidade, "o mal escondido em qualquer lugar". Esta letra escrevemos pensando no espírito Bob, da série "Twin Peaks", de David Lynch. Temos canções também inspiradas em "Madrugada dos Mortos" e "O Senhor dos Anéis", que não entraram para o disco. Já "Zum Zum", é uma canção que fala sobre o vôo das abelhas. Ou seja, às vezes as referências se cruzam, às vezes não. Aí, é só poesia mesmo, e isso já é uma boa desculpa pra se escrever uma canção.
HEAVYNROLL - Quais são os planos da banda para 2011 em termos de divulgação e shows? E a crítica especializada, já houve algum tipo de retorno deste trabalho?
BRENO - Bem, não é novidade que hoje em dia existe uma cena independente que se movimenta muito mais pela internet do que qualquer outro meio, então, creio que temos interesse em aumentar nossa divulgação virtual, para alcançar mais pessoas que se interessem pelo som, mesmo que seja um tanto difícil pra nossa banda, que às vezes tem referências dispersas entre si, como se não houvesse um conceito; isso dificulta uma identificação imediata com quem vê ou escuta pela primeira vez, ainda mais virtualmente. Mas uma coisa que entendemos sobre nós mesmos, é que na diversidade que formamos a personalidade da banda, e mesmo que o som tenha muitas facetas, é possível que futuramente possamos nos inclinar para um lado correspondente à esta personalidade; em nossas últimas conversas, temos falado muito em compor mais músicas envolvendo o terror, e também é bastante provável que ocorram mudanças em nossa formação, no disco tivemos participações especiais e têm sido uma experiência incrível dividir notas e arranjos com outros músicos.
Em 2010 não fizemos muitos shows, estivemos bastante concentrados nas gravações; creio que este ano, além de iniciar novas gravações, utilizando somente métodos de homestudio, pretendemos fazer mais shows, em outras cidades também.
Quanto ao retorno da crítica especializada, esperamos muito que nosso disco seja analisado, sobretudo em sites e blogs de mídia independente, pretendemos divulgar principalmente para estes, numa ideia de fomentar a procura pela banda nos meios virtuais, coisa que poderá nos abrir algumas portas e janelas a mais Brasil afora. Vamos ver...
HEAVYNROLL - Breno, muito obrigado pela oportunidade desta breve entrevista, o Blog Heavynroll Space deseja muita sorte e sucesso nesta caminhada. Deixe um recado pra galera.
BRENO - Muito bem, achei as perguntas muito bacanas, e agradeço ao Heavynroll pelo espaço.Espero que tenha se formado uma entrevista legal de ser lida também. Quero aproveitar pra mandar um abraço a todos aqueles que acompanham a banda, e espero que a união entre bandas autorais de Caxias e região seja cada vez mais intensa, pois a cena está ficando cada vez mais bonita, e cada vez mais pessoas conseguem acompanhar este desenvolvimento. A principal coisa que eu quero dizer é: pessoal, acompanhem as bandas autorais da cidade, elas merecem atenção, e não apenas por serem locais, mas porque há música de imensa qualidade e diversidade sendo produzida por aqui, de personalidade forte. Uma óde à música autoral!!!
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O "10 Álbuns" segundo Breno Dallas:
- White Album - The Beatles
- Wish You Were Here - Pink Floyd
- Trans-europe Express - Kraftwerk
- Low Kick and Hard Bop - Solex
- O A e o Z - Mutantes
- Tales of Topographic Oceans - Yes
- Hambug - Arctic Monkeys
- Is This It? - The Strokes
- Double Fantasy - John Lennon
- Everybody Knows This is Nowhere - Neil Young
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As 5 maiores influências como músico
- John Lennon
- Paul McCartney
- George Harisson
- Ringo Starr
- Arnaldo Baptista
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